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Regata Volta a Ilha do Arvoredo.

O dia começou cedo, acordei as 4:45 da manhã para conseguir chegar à marina por volta das 7hrs. O combinado era deixarmos a marina durante a baixa da maré uma vez que tínhamos um limite de calado e uma série de coisas para embarcar e desembarcar.

Quando cheguei na marina, me dirigi ao barco e uma série de objetos, dentre eles velas, pranchas, roupas e partes internas do barco estavam para fora.

Parte da tripulação já estava no local e outra estava a caminho. Dei bom dia a todos e vendo aquela movimentação, curioso perguntei: o que houve?

Alguns com uma cara de desânimo responderam, o motor não está virando.

Meu primeiro pensamento foi, estamos num barco a vela, motor não deveria ser uma grande preocupação!

Depois de infinitas tentativas e um cronometro que corria contra o pico da maré, finalmente o eletricista chegou, sabe como é, horas fuçando e com apenas um comando conseguimos finalmente dar a partida. O horário havia avançado bastante e já tínhamos a mare baixa contra nós, mesmo assim tínhamos de vence-la por conta da regata, nosso objetivo.

Soltamos as amarras, recolhemos as defensas e avançamos rumo ao canal.

Alguns poucos minutos navegados e o previsto aconteceu, nossa quilha vinha raspando no fundo, que por sorte era lodoso e não nos causou maiores problemas. Assim que deixamos o canalete e adentramos no canal, um vento fantástico soprou com aproximadamente 25 nós. Foi uma emoção, todos estavam havidos por uma regata com bons ventos, afinal é uma condição onde nosso barco navega bem.

Mas o que parecia constante era apenas um canal de vento por conta do recorte geográfico, logo sua intensidade baixou e enfrentamos a dura realidade dos 8 a 10 nós.

Seguimos para a raia que foi posicionada próxima à ponta grossa, todas as tripulações avaliavam seus concorrentes por classe buscando a melhor posição para garantir uma boa largada.

Na raia tínhamos um grande concorrente e que conhecíamos bem, afinal já havíamos tripulado juntos em outras oportunidades. Portanto a técnica de navegação deveria ser aplicada com uma precisão cirúrgica.

Apesar dos ventos fracos, conseguimos nos posicionar bem correndo a linha de largada e cambando livremente.

Nosso objetivo era abrir o máximo que pudéssemos do morro para conseguir um vento mais limpo e alcançarmos a ilha da moela, depois de um bom tempo trabalhando as velas para aproveitar o vento que variava de intensidade e direção, conseguimos alcançar nosso objetivo.

Conforme avançávamos rumo a ilha uma dúvida surgia, devemos deixar a ilha e optar por uma navegada aberta ou passamos por dentro numa navegada costeira?

Os minutos passavam e cada vez mais temíamos uma decisão errada, por fim optamos por passar entre a ilha da moela e o pequeno ilhote do pau a pino.

A navegada seguia lenta e aos poucos a ilha da moela ficava para trás...

Algumas horas após deixarmos a ilha da moela identificamos algo flutuando, chegamos a achar que fosse um corpo, na verdade era, infelizmente era uma tartaruga de aproximadamente 2 metros de comprimento e que exalava um odor fortíssimo, devia estar à deriva a dias.

Todos lamentamos aquela cena, afinal sabemos que muitas vezes animais como esse são vítimas dos próprios homens.

Mesmo presenciando aquela cena triste, não podíamos perder nosso foco, concluir a regata.

Por volta das 17hrs alcançávamos a ilha dos arvoredos, que segundo o aviso de regatas deveria ser contornado por boreste, que diga-se de passagem, cada metro navegado exibia um detalhe diferente e encantador, que para os que a contornavam pela 1ª vez, encerrava com uma grua em forma de gaivota, algo realmente emocionante.

Uma previsão apontava ventos de maior intensidade a partir das 19hrs e por volta desse horário o horizonte apontava nuvens carregadas e uma esperança de ventos melhores, só não esperávamos que fosse tão forte.

Quando entramos na área. Levamos um sopro de água, sim um sopro, uma rajada levantou uma cortina de água na superfície na direção do nosso barco, nunca vi nada igual.

Em seguida um vento constante que variava entre 25 e 30, com rajadas que chegavam a 40 nós.

Rapidamente rizamos todas as velas, pois vínhamos à todo pano e mante-las içadas nos traria problemas.

Por experiência sabíamos que uma mudança brusca naquela região não duraria muito tempo, mas enquanto durasse, tínhamos que manter o rumo e zelar pela segurança de toda a tripulação.

Todos os tripulantes assumiram seus postos, em minutos estávamos navegando e agradecendo mesmo que em condições severas, os ventos que necessitávamos para garantir nossa chegada à boia, mas mal imaginávamos o que ainda teríamos pela frente.

Navegávamos a pouco mais de 10hrs quando alcançamos a ilha da moela, durante o vento forte, algumas embarcações tiveram problemas dos mais diversos, alguns conseguiram comunicar a desistência e alguns simplesmente desapareceram do nosso visual.

Após algumas horas de vento intenso, aconteceu o que prevíamos, os ventos fortes tornaram-se suaves brisas que mal conseguíamos manter nosso barco no rumo, nosso leme alcançava os dois lados do batente e isso não interferia em nada a nossa direção.

A essa altura tínhamos a uma certa distância a ilhota do pau a pino em nosso través de bombordo.

Tentávamos nos safar das ilhas uma vez que tínhamos poucas opções e pouquíssimo ou quase nenhum vento, mas além dessa preocupação tínhamos a corrente que aos poucos nos lançava rumo a ilha da moela e mais a diante sobre o ilhote do pau a pino.

Nosso timoneiro, experiente e preciso, não nos deixou perder a esperança de que sairíamos dali.

Aos poucos, manobra a manobra, nos tirou da zona de perigo antes mesmo que por segurança precisássemos lançar a âncora ao mar, evitando que nos aproximássemos das pedras.

Por conta de uma pane elétrica, tínhamos ainda a questão do motor, que sem vento nos deixava ainda numa situação muito desconfortável.

Além da preocupação com a nossa tripulação, tínhamos outros amigos embarcados e também com problemas no motor e por consequência elétricos, mas que mantínhamos contato visual e por celular enquanto ainda tínhamos bateria.

Enquanto seguíamos à deriva, observávamos atentos a qualquer movimento de perigo ou de ajuda.

Depois de algumas horas de calmaria total, visualizei as luzes de navegação de uma embarcação, ainda muito longe e impossibilitando sua identificação. Rapidamente peguei a lanterna e iniciei o código morse na vela mestra durante uns 30 minutos. Repeti dezenas de vezes o código até que a embarcação apontou seu rumo em nossa direção, causando um alívio imediato. Quando se aproximou, identifiquei uma grande lancha de uns 45 pés e que seguia rebocando um veleiro que durante a grande ventania, também havia sofrido algumas avarias.

Assim que se aproximou, iniciamos os procedimentos para reboque, lançamos o cabo ao veleiro que vinha rebocado e o passamos no cunho de proa. Como estávamos numa região próxima à costa, a água batia bastante o que nos deu um pouco de trabalho quando encontramos o barco que mantínhamos o visual e que por consequência o rebocaríamos, nessas condições as embarcações batem uma contra a outra, podendo danificar as ferragens.

Em poucos metros rebocados, descobrimos que não seria possível seguir uma lancha grande, rebocando 3 veleiros daquele tamanho, após a quebra do nosso cabo de reboque, decidimos que tentaríamos chegar à marina navegando, e conseguimos!

Mas tínhamos ainda uma missão, aguardar a maré encher para chegarmos ao píer, conclusão, aguardamos até o meio da madrugada para entrarmos no canal, concluindo nossa navegada total em aproximadamente 15hrs e muitos momentos de emoção.

Bons ventos.

Regata Alcatrazes por Boreste

O sol despontava indicando um belo dia quando iniciamos os procedimentos para seguir rumo a raia, nosso querido Ciao, um belo MJ 38 era nossa máquina de guerra na classe RGS Cruiser onde outras grandes embarcações de cruzeiro também estariam, dentre todas elas o famoso e majestoso Atrevida de 95 pés construído por volta de 1923, uma verdadeira obra de arte naval.

Como cruzeiristas, procuramos utilizar todas as técnicas, táticas e estratégias para navegarmos com certa vantagem sobre nossos concorrentes, que contavam com barcos de cruzeiro rápidos e com tripulações bastante experientes em circuitos oceânicos.

A movimentação estava intensa, a raia cheia de classes diferentes e com mais de 100 barcos que variavam de 20 a quase 100 pés, os nervos à flor da pele, pois com o vento muito fraco as decisões de mudança de estratégia eram tomadas a cada segundo, todos calados e sempre atentos aos movimentos das outras embarcações, atentos também às informações da comissão de regatas e com o proeiro nos enviando informações através de sinais, fazendo com que toda a tripulação se movimentasse a todo momento, substituindo velas, alterando as regulagens e distribuição de peso no barco.

Agora, todas as tripulações com todos os cronômetros a mão e prontas para ativar o regressivo do tiro de sua classe, mantinha o clima de tensão no ar.

O aviso é dado pelo canal do VHF, momento de silêncio que precede o tiro, ninguém quer perder o tiro, tampouco os olhares e gestos sutis dos barcos concorrentes que naquele momento poderia alterar toda nossa estratégia de largada, limitada aos seus poucos centímetros que nos distancia das embarcações a barla e a sotavento.

O cronometro segue, em tom baixo vamos passando todas as coordenadas para o timoneiro, quanto tempo falta, quem está a barla, quem está a sota, onde temos condição de buscar uma boa rajada para aquela condição, onde concorrentes da classe ou não estão encontrando alguma rajada melhor, enfim...

5,4,3,2,1 e a corneta soa indicando que nossa regata iniciava, com vento fraco, um volume grande de embarcações e muita vontade de alcançar o nosso objetivo, Alcatrazes por boreste.

Ainda durante a 1ª hora os barcos navegavam com vento muito fraco fazendo com que não conseguíssemos desfazer aquele bloco de barcos de cruzeiro.

As classes one design como HPE 25, C30 e S40 logo se desvincularam do grupo aproveitando suas configurações de cascos leves e grandes áreas vélicas. Aos poucos nossa flotilha foi se dissipando e cada barco pode iniciar sua navegação de acordo com a estratégia definida.

Foram muitas horas navegando até alcançarmos alguma vantagem, cada cambada ou cada jaibe nos colocava numa dúvida, pois o vento além de fraco também rondava muito e mesmo com nossa experiência, nossas certezas em muitos momentos eram incertas.

Até deixarmos a ponta sul da Ilhabela nossa navegada foi de muita técnica, o que deixou toda a tripulação num nível de estresse muito grande, afinal tínhamos que manobrar um barco com aproximadamente 6.000 kg com ventos de 6 a 8 nós e isso era um exercício de técnica e paciência que depois de 7 horas debaixo de sol intenso, acabou nos esgotando fisicamente. Mas nossa missão ainda levaria aproximadamente mais 7 horas até alcançarmos nosso objetivo, contornar alcatrazes por boreste.

Finalmente deixamos o extremo sul da ilha e já tínhamos o visual de alcatrazes, tínhamos também o visual de uma porção de outras embarcações que, assim como nós, estavam paradas por falta de vento.

Mas nem tudo estava perdido, segundo a previsão o início da noite nos traria vento que duraria a noite toda, variando entre 15 e 20 nós. Como eu ainda me recuperava de uma forte febre, aquele sol todo havia me esgotado, então fui o 1º a descer para um descanso, quando acordei estava encostado na parede da cabine e pensei, opa isso significa que o barco está orçando, maravilha!

Vesti rapidamente minha roupa de tempo, me apoiando com o pé praticante na porta da geladeira dado o ângulo do casco, o vento estava forte e isso era tudo o que queríamos, pois com ventos fortes poderíamos explorar o melhor do nosso barco.

Subi e a tripulação estava na escora, outros em seus postos, contornávamos alcatrazes e naquele momento nosso visual era bastante limitado, navegávamos com auxilio de instrumentos e apesar de conhecermos bem a região, as decisões sempre eram tomadas considerando a segurança da tripulação, riscos não faziam parte dos planos.

Contornamos alcatrazes por boreste e logo estávamos apontando Ilhabela onde já contávamos com visual por conta da ilha e dos navios que aguardavam para entrar no canal.

Mais algumas horas e cruzaríamos a linha de chegada, nosso barco que navega muito bem sob condições pesadas de vento, nesse momento gozava de uma boa linha de navegação o que nos animava a cada momento, às 03:48:39 am fomos o 2º barco a cruzar a linha de chegada localizada ao sul da ilha após aproximadamente 18hrs e 60 milhas percorridas, o que nos rendeu o 3º lugar no tempo corrigido.

Uma navegada com muita emoção, teste de paciência e principalmente resistência física.

Bons Ventos.

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                                    Volta a Ilha de Santa Catarina

 

A experiência de velejar na regata Volta à Ilha de Santa Catarina era uma busca que há muito tempo vivia dentro de mim. Já havia velejado em algumas raias, navegado alguns percursos, mas contornar a ilha era um desafio que me atraia uma vez que boa parte das minhas experiências foi vivida em águas abrigadas.

Foi através de um convite que surgiu essa oportunidade, mas não um convite para mim. O comandante do barco estava buscando formar uma tripulação para correr a regata e um grande amigo e velejador, por ter um compromisso na mesma data me indicou para o barco.

Aceitei imediatamente o convite, entrei em contato com o comandante e marcamos o encontro na sexta feira que antecedia a regata.

Na sexta, próximo à hora do almoço encontrei outro tripulante do barco que me apresentaria à embarcação e juntos faríamos o check list que nos foi passado anteriormente.

No final da sexta feira o tempo estava chuvoso, mas mesmo nessa condição conseguimos concluir todo o check list. Encontramos com o restante da tripulação no clube e no início da noite com o comandante. Nos apresentamos, jantamos, discutimos sobre as condições que enfrentaríamos e após um tempo de descontração nos recolhemos para encarar uma regata que poderia durar muito mais do que imaginávamos.

O sábado acordou com um belo dia de sol que tornou tudo mais empolgante, próximo às 09:30 hrs soltamos as cordas rumo a linha de largada. Nossa classe largaria às 10:00 hrs e tínhamos que pegar o alinhamento da bóia para definirmos como seria nossa largada.

Íamos largar com muitos barcos grandes como o nosso e isso exigia bastante de nossa tripulação.

Viemos de cano cheio para a linha e mesmo em meio ao grande volume de barcos, nosso comandante usou toda sua habilidade para encontrar um bom encaixe do barco em relação aos outros barcos da nossa classe.

Largamos em frente a sede do Iate Clube Veleiros da Ilha e seguimos rumo ao sul da ilha, conseguimos manter uma boa velocidade e como nosso proeiro conhecia bem a região, sua contribuição foi fundamental para nossas decisões, todas assertivas.

Tínhamos um barco de cruzeiro grande e decisões equivocadas nos traria problemas no resultado final.

Procurando aproveitar ao máximo os bons ventos, decidimos seguir com bordos longos, o que nos rendeu uma boa vantagem em relação aos outros barcos da nossa classe.

Quando avistamos a ponta dos naufragados tivemos que, em função de calado, executar algumas manobras. Ajustamos nosso rumo e contornamos a ponta dos naufragados sem maiores problemas.

Era um dia de mar calmo e apesar de todas as lendas que reza aquele lugar, nossa lembrança seria tranqüila se não fosse a mensagem passada pelo rádio. Minutos após contornarmos a ponta dos naufragados ouvimos um pedido de socorro, estávamos decidindo o uso do balão quando ouvimos pelo rádio, mayday mayday, na mesma hora ficamos atentos ao rádio para saber do que se tratava o chamado. Um dos nossos tripulantes disse: algum barco está indo à pique!

Foi quando num rápido movimento olhamos para a popa para ver se mais alguém havia cruzado aquele lugar e identificamos através de mais um chamado, mayday mayday, estamos em frente ao ilhote da ponta dos naufragados. O barco estava sem leme e com todas as velas içadas dançava num ballet desenfreado de um bordo para o outro rapidamente. Após alguns minutos o barco conseguiu se afastar das pedras por sorte, baixou todas as velas e recebeu o retorno do iate clube dizendo que uma lança de socorro já estava a caminho.

Seguimos nosso rumo, afinal estávamos competindo e deveríamos seguir uma vez que o socorro já havia sido anunciado.

O que não prevíamos é que minutos mais tarde seríamos surpreendidos, o vento rondou um pouco e nosso rumo nos permitiria o uso do balão novo.

O vento estava bom, mas um erro na manobra fez com que déssemos uma atravessada e ficássemos com meio barco dentro da água por alguns instantes. Para alguns menos experientes um susto, para outros um momento que deveria ser corrigido, pois naquela situação perdíamos minutos preciosos que poderíamos navegar a 10/12 knots.

Depois daqueles minutos de tensão, corrigimos a manobra e seguimos navegando.

Pouco menos de uma hora após esse episódio, assistimos um barco ter seu balão rasgado ao meio e passar um bom tempo tentando descer o pouco que restou e que estava preso à adriça, pelo nosso través tambem retornava um outro barco que teve problemas com a genoa. O vento era intenso e essas cenas poderiam acontecer à qualquer um de nós, experientes ou não.

Seguimos nossas navegada de maneira tranqüila, decidimos por uma navegada mais segura e assim cruzamos todas as praia em direção ao norte da ilha. Após cruzarmos a região onde encontra-se a ponta da Daniela e Ratones o vento reduziu muito, quase parou. Parece brincadeira, mas já não é a primeira vez que, após mais de 10 horas navegando numa regata fico a menos de uma milha praticamente parado.

Demos dezenas de bordos até finalmente alcançarmos a linha de chegada às 00:55 hrs, concluindo a prova em 13:20:41 como campeões da classe RGS Cruzeiro.

Bons Ventos.

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Circuito Conesul de Vela de Oceano
 

Para a cultura gaúcha, o mês de setembro é uma data muito especial porque nele é comemorado ao dia 20 de setembro a revolução farroupilha.

Nesse mesmo mês, se realiza um dos circuitos mais importantes, senão o mais importante da vela gaúcha, o circuito conesul de vela de oceano.

O rio grande do sul é um centro de excelência da vela de alta performance, grande velejadores de classe velejam nas águas do guaíba com os olhos numa vaga olímpica, mas nessa data em especial é possível tripular com ou contra eles, além de também competir com vários campeões mundiais de diversas classes do iatismo brasileiro, ou seja, a maior parte dos barcos são de cruzeiro, sem preparativos especiais como os monotipos, mas as tripulações são afiadíssimas, iatistas experientes de todas as idades e todos com muita sede de vitória.

Tive a oportunidade de correr o circuito duas vezes, 2010 e 2011, cada edição em barcos diferentes.

O circuito existe a mais de quatro décadas, então não é preciso dizer que muitas lendas envolvem cada história e historiador, mas um comentário me chamou atenção. Que o circuito conesul é o maior circuito em águas abrigadas que conheço do Brasil, eu sei que é, mas do mundo me deixou curioso pela importância.

Em 2010 fui convidado para compor a tripulação do veleiro mandinga comandado por Gustavo Lis, que no ano anterior com a cheia do Guaíba, acabou colidindo contra uma pedra que assustou a tripulação, mas que por sorte não causou grandes danos à embarcação. Apenas tirou deles a chance de vitória, mas que em 2010 estava disposto a levar o caneco, custasse o esforço que fosse necessário.

Tripulo em vários barcos diferentes, as vezes conheço a tripulação no trapiche do iate clube e confesso que a determinação e organização do comandante me surpreendeu. Velejamos diversas vezes antes para nos familiarizarmos com o barco e uns com os outros, treinar as manobras, alinhar as posições de cada tripulante, trabalho em equipe, sempre orquestrado pelo comandante Lis.

O circuito foi dividido em 2 etapas, o 1º final de semana com uma regata de percurso curto e regatas barla-sota e no 2º final de semana 2 regatas de percurso longo, a regata farroupilha e a regata seival, conforme a data sugere, a regata farroupilha em homenagem a revolução que marcou a história do povo gaúcho e a regata seival em homenagem ao nome dado a embarcação utilizada por Bento Gonçalves, tendo a regata farroupilha um percurso menor que a regata seival.

No final de semana tivemos boas médias segundo nossos cálculos, mas como cada barco tem uma medição, dependíamos de outras informações para ter certeza da nossa posição frente os outros barcos. Estávamos correndo dentro de uma classe com sub-divisões de acordo com a medição de cada barco.   

Largamos bem, mas a flotilha era grande e toda atenção era importante e influenciaria mais tarde nas montagens de bóia, decisão de velas e a navegação propriamente dita.

Navega-se aproximadamente 6 horas até alcançarmos as proximidades do farol de itapuã, região que já começa a ficar desprotegida e por conseqüência com ventos mais fortes.

Após cruzarmos a região da ponta grossa, navegamos na esteira de um veleiro maior e assim seguimos até as proximidades de itapuã, em questão de minutos fizemos 2 trocas de vela, grande risado e genoa 3, quase decidindo subir a storm. Toda a tripulação estava na escora, inclusive o comandante e mesmo assim, com as fortes rajadas, quase ficamos sem leme várias vezes. O vento havia dobrado sua intensidade, mas nós mantínhamos o mesmo peso de tripulação, então toda a técnica era empregada à navegada.

Quando deixamos pelo través de bombordo o farol de itapuã o vento ficou ainda mais forte e graças ao trabalho da tripulação estávamos com as velas corretas para aquele intenso trecho de navegação.

Voltamos uma boa parte do trecho navegando de través e já próximo à ponta grossa o vento rondou e tivemos a oportunidade de colocar o balão, agora com um vento que variava entre 15 e 20 knots. A essa altura da regata tudo era um breu, mas tínhamos no visual as luzes de navegação das outras embarcações, quando víamos algo.

A chegada seria na ilha do presídio, mas quando estávamos a menos de 1 milha o vento parou completamente, imagine a nossa frustração. Mais de 12 horas navegando debaixo de ventos fortes e constantes para praticamente morrer na praia!

Ficamos mais de 1 hora parados tentando de tudo com a comissão de regata no visual, mas sem poder fazer absolutamente nada.

Enquanto isso, observávamos os barcos concorrentes  se aproximarem, pois o vento só havia parado onde estávamos e isso poderia afetar todo o resultado da regata, mas por muita sorte uma forte rajada entrou e nos empurrou até a linha de chegada nos presenteando mais tarde com dois troféus, campeão na classe e campeão na geral.

O mesmo aconteceu na edição de 2011, mas dessa vez a bordo do veleiro Boa Vida IV do comandante Marcelo Bernd, um lindo Wind 43. Estávamos disputando a regata seival, a maior regata do circuito, navegando a mais de 13 horas até atingirmos exatamente o mesmo lugar da edição 2010. Ficamos parados aguardando aquela última brisa que nos levaria a linha de chegada, mas dessa vez com um barco duas vezes mais pesado. Mesmo assim conseguimos cruzar a linha de chegada após 15 horas de regata para levar para casa o cobiçado troféu xodó, destinado ao fita azul.

Bons Ventos.

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